quinta-feira, 24 de março de 2011

Contei meus anos



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para
frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou
uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas
percebendo que faltam poucas mastiga até o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.

Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "se tiram fatos a limpo".
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem
muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito
humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não
se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende
a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de
Deus.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial é que faz a vida valer a pena.